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33bienal/sp

7 sep - 9 dec, 2018
free admission

Audio 33bienal


O pássaro lento / Roasted chicken by [Frango assado por] Roderick Hietbrink

The artist shares his childhood experiences and reflects upon the separation between inside and outside, also existent in the film he presents at the 33rd Bienal: The Living Room, from 2011.

O artista compartilha suas experiências de infância e reflete sobre as relações entre o interior e o exterior, existentes também no filme que apresenta na 33ª Bienal: The Living Room [A sala de estar], de 2011.

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PORTUGUÊS

O bairro em que cresci estava cheio desse tipo de casas. Cresci em uma delas. Na verdade, foram meus pais mesmos que a construíram nos anos setenta. Assim, nasci e cresci lá e muitos elementos do filme foram diretamente extraídos de minha experiência de infância. Como os vasos de plantas e os bichos empalhados, por exemplo. Nós os tínhamos em nossa casa. Minha mãe cuidava de todos os vasos de plantas, enquanto meu pai cuidava de encher nossa casa com pássaros e doninhas e todo tipo de animais. O que é uma espécie de separação interessante entre minha mãe cuidando dos vivos e meu pai cuidando dos mortos, de certa forma.

Acho que esse filme é sobre isso também. Sobre essa separação entre o interior e o exterior. Talvez também como uma vida interior e uma vida exterior, como a casa como corpo, como alma? E sendo a árvore esta força externa, chegando. Destruindo, mas também sendo destruída.

De qualquer maneira, em criança, sentávamos – tenho três irmãos e com isso éramos uma família de seis – e nos reuníamos à noite ao redor da mesa para o jantar. Essas cadeiras são o tipo de cadeira que meus pais tinham. Ficávamos sentados ali e observávamos as pessoas passando, mas também éramos observados. Essa cena tipo Os comedores de batata de Van Gogh, com um elemento de voyeurismo. Há algo teatral na coisa toda e, ao mesmo tempo, há uma qualidade panóptica. De qualquer modo, sentado lá com minha família comendo batatas e feijões verdes e frango assado enquanto os falcões nos olhavam lá de cima.

Eu tinha um corvo amestrado quando estava com cerca de 10 anos de idade. Foi a coisa mais magnífica que já experimentei. Porque ele, de certo modo, me fez realmente capaz de voar. De manhã eu chamava seu nome e abria a janela do quarto e ele vinha voando para dentro. E foi tão intenso ter essa experiência da natureza penetrando de alguma forma e a repentina consciência de que sou tão parte da natureza quanto esse corvo é, de certo modo. O que quer que eu esteja fazendo, trancando-me num quarto, dormindo numa cama, qualquer coisa mesmo, em certo sentido é meio que um comportamento natural, não?

ENGLISH

The neighbourhood I grew up in was full of these kind of houses. I grew up in one of these houses. Actually my parents built it themselves, in the seventies. So I was born and raised there and a lot of the elements in the film are directly taken from my childhood experience. Like for instance the potted plants and the stuffed animals. We had those in our house. My mom would take care of all the potted plants, while my dad would take care of filling our house with birds and weasels and all kind of animals. Which is kind of an interesting separation between my mom taking care of the living and my dad taking care of the dead, in a way.

I guess this film is about that too. About this separation between the inside and the outside. Perhaps also like an inner life and an outer life, like the house as body, as a soul? And the tree being this external force, coming in. Destroying but also being destroyed.

Anyway we would sit as kids – I have three brothers so we were a family of six in the family – and we would all gather around the dinner table in the evening for supper. Those chairs are the type of chair my parents used to have. We would sit there and watch people passing by, but also being watched. This kind of scene like The Potato Eaters by van Gogh, with a voyeuristic element. There is something theatrical about the whole thing and then at the same time it has the quality of a panopticon. Anyway, sitting there with my family eating potatoes and green beans and roasted chicken while the falcons were looking down on us.

I used to have a tamed crow when I was around 10. It was just the most magnificent thing I have ever experienced. Because it really made me able to fly, in a sense. In the morning I would call his name and open the bedroom window and he would just come flying inside. And it was so intense to have that experience of nature somehow penetrating and the sudden awareness that I am as much part of nature as that crow is in a sense. Whatever I’m doing, locking myself up in a room, sleeping in a bed, anything really, it’s all kind of a natural behaviour in a sense, no?

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