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7 sep - 9 dec, 2018
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Bruno Moreschi / Nelson Felix por [Nelson Felix by] Iraildo Brito

Outra 33ª Bienal de São Paulo: projeto de Bruno Moreschi. Iraildo Brito, operador de empilhadeira da Bienal, comenta a instalação de Nelson Felix, localizada no segundo andar da exposição.

Another 33rd Bienal de São Paulo: a project by Bruno Moreschi. Iraildo Brito, Bienal’s forklift operator, comments on the installation by Nelson Felix, located on the second floor of the exhibition.

Português | English

PORTUGUÊS

Meu nome é Iraildo Brito, sou pernambucano. Entrei na Bienal para trabalhar por 10 dias, em 1999, na 4ª de Arquiterura, e estou aqui até hoje. A gente vai ficando aí, enquanto deixarem. Sou operador de empilhadeira da casa (oficial, agora). Nesse trabalho, eu participo desde a montagem da cenografia. Da entrada do material até o final da exposição, quando desmonta. Aqui eu já carreguei de tudo. Teve uma obra, nos 50 anos de Bienal, uma comemoração, que eram 5 caminhões de estrume de vaca, e eu tive que trazer aqui para o terceiro andar. E mais recente, teve a vaca que era partida no meio, que tivemos que a gente teve que carregar também. Para dirigir a empilhadeira, você tem que ser habilitado. Se você machucar alguém dentro do ambiente, você responde como se fosse no trânsito. Aqui na Bienal é difícil por causa da rampa. Com a empilhadeira, normalmente você trabalha no plano. Aqui você tem que subir e descer rampas, de frente ou de ré. Isso complica um pouquinho mais e é o que assusta alguns operadores que vêm aqui.

Em relação à obra do Nelson, ela foi muito complexa. Ela deu trabalho tanto para os meninos do Almoxarifado, quanto para mim e para o Joaquim, que é o produtor. Porque é uma peça grande, pesada, e a gente não sabia o que fazer. Foi alugada uma aranha de 5 toneladas que não conseguiu colocá-la para cima. Aí tivemos que trabalhar com um muque de 15 toneladas para poder chegar com ela no local. Toda a montagem da obra do Nelson durou umas duas semanas. A gente trabalhando direto. Você pára em frente à obra e fica pensando: uma chapa dessas, com um peso desses, o que significa? Não é isso? Depois veio aquele sino dele, os cactos… E você vai tentando entrar na cabeça do artista, porque você nunca sabe o que ele está pensando. E é o caso do Nelson. Todos os dias ele tinha algo diferente para fazer. Eu acho que ele não tinha um projeto pronto…

Ele viu a obra dele de um jeito e, quando ele viu o espaço que ganhou, ele tentou mudar algumas coisas que deixaram mais atraente. Essa obra me deixou curioso por causa disso. Pra gente que é leigo, é difícil olhar uma chapa e… o que significa essa chapa? Mas para ele, na cabeça dele, é muita coisa. Eu acho que a chapa é pesada, realmente. Ela tem 2,5 [metros], a outra tem 1.500 quilos. E com as ferragens que colocaram ela foi para, quase, 5 mil quilos. Na cabeça dele, ele viu aquela chapa, quis colocá-la ali em pé, e depois acho que ele mesmo ficou pensando o que ele queria com aquilo. Até hoje ele não explicou pra gente. Já perguntei duas vezes e ele não fala. Perguntei: "O que o senhor pensou quando fez essa obra?". Ele diz: "Rapaz, está aí. Pensei assim e pronto". Aí a gente também pára para pensar: "O que essa pessoa fica pensando em casa?". Para fazer uma obra dessas… é complicado. [risos] Os cactos do Nelson são o seguinte: ele disse que aquilo ia dar frutos até o final da exposição. E realmente está dando. Se você olhar, a plantação dele está evoluindo. Ele plantou aquilo com muito carinho, estava aqui todos os dias com a gente… Aquilo é da cabeça dele. Ele pensou aquilo. Mas tem as pessoas por trás dele que vem executar o serviço. Ele tem uns assistentes muito bons, o César, o Jeremias… E os meninos também merecem um crédito, por que essa gente que você não vê faz a obra que você vê. [risos] E eu acho que a gente está de parabéns. Conseguimos realizar o que ele queria.

ENGLISH

My name is Iraildo Brito, I’m from Pernambuco. I started at the Bienal in 1999, when I was hired to work for 10 days for the 4 th [Bienal de] Arquitetura, and I’ve been here so far. We’ll stay here as long as they want. I’m the (now, official) institution’s forklift operator. With this job, I take part in processes that start at the set design, ranging from the material intake to the end of exhibition, when we dismantle it. Here I have carried all sorts of things. There was a piece at the Bienal’s 50th anniversary, for its celebration, which consisted of five trucks of cow manure, and I had to bring all that here to the third floor. And more recently there was the cow that was split in half, which we had to carry as well. To drive a forklift, you must have a license. If you hurt someone with it indoors, you respond as you were in traffic. Here at the Bienal [the work] is difficult because of the ramp. With the forklift, you usually work on flat areas. Here you have to go up and down ramps, either forward or backward. It makes the job a bit more complicated and is what scares out some operators who come here.

With regard to Nelson’s work, it was very complex. It was toilsome for both of the Warehouse boys and for me and Joaquim, who is the producer. Because it’s a big, heavy piece, and we did not know what to do. A 5-ton spider crane was rented and could not lift it up. So we had to work with a 15-ton munck in order to take it to its place. The whole assemblage of Nelson’s work lasted a couple of weeks. We worked incessantly. You stand in front of the piece and think: a plate like this, weighing as much as that, what does it mean? Right? Then there was that bell of his, the cacti... You try to get into the artist’s mind, because you never know what the artist is thinking. And so is with Nelson. Every day he had something different to do. I think he did not have a finished project...

He saw his work in a way, and when he noticed the space he had for it, he tried to change some of the things, which made it look more attractive. This work made me wonder because of that. For lay people like me, it is difficult to look at a plate and... What does this plate mean? But for him, in his mind, it’s a lot. I think the plate is heavy, really. It is 2.5 [meters tall], the other weighs 1,500 kilos. And together with the hardware attached to it, it passed to almost 5,000 kilos. In his head, he saw that plate, wanted to put it there, standing, and then I think he himself wondered what he meant with that. To this day he did not explain to us. I’ve asked twice and he does not tell. I asked, “What did you think when you made this work?” He says, “Boy, there it is, I thought so, and that’s it.” So we also wonder: “What does this person think at home?”. To do such a work... it is complicated [laughs]. With regard to Nelson’s cacti, that’s what it is about: he said it should bear fruit until the end of the show. And it really is. If you pay attention, his garden is evolving. He planted it with a lot of affection, he was here with us every day... That comes from his mind. He thought that. But there are the people behind it who come to carry out the job. He has very good assistants, César, Jeremias... And these boys also deserve credit, because these people you do not see do the work you see [laughs]. And I think we are to be congratulated for it. We have been able to accomplish what he meant.

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