Criada em 1951, a Bienal Internacional de São Paulo cumpriu ao longo de quase sete décadas um papel fundamental no panorama da cultura e da arte no Brasil. Aproximou milhões de pessoas da produção nacional e internacional de arte contemporânea, conectando-as a um universo cujo acesso é normalmente restrito.
Desse modo, realizou de forma exemplar o que quase sempre se busca com a política cultural. Ampliou o acesso, compartilhou experiências estimulantes, contribuiu para engrandecer o repertório de muitas pessoas, movimentou o mundo da arte, despertou inquietações, provocou o debate, abriu as portas da percepção.
Agora, em meio à segunda década do século 21, a Bienal propõe novos desafios: reinventar-se; ressignicar-se. Em um contexto no qual predominam a aceleração e o excesso, em que as pessoas são bombardeadas diariamente por um turbilhão de imagens e informações, a Bienal segue na contramão dessa tendência. Seus milhares de visitantes terão, em 2018, uma experiência nova e potencialmente transformadora. Os artistas passam a ter mais protagonismo em relação ao espaço e à experiência geral nesta edição da Bienal, em que o curador compartilhará com sete artistas a tarefa de conceber a exposição. O foco e a atenção têm prioridade. Sem dispersão. Sem fragmentação. Mas com a intensidade de sempre. Reinventar-se é um ato de coragem. Abandonar conceitos tradicionais que um dia foram revolucionários, navegar contra a corrente, contrapor-se ao espírito do tempo para valorizar o território da arte…
Não é fácil. Mas é preciso ousar. Parabenizo a organização da 33ª edição da Bienal por, mais uma vez, apostar na diferença. “A arte é o exercício experimental da liberdade”, afirmou num artigo o grande crítico de arte Mário Pedrosa (1900-1981), cuja obra inspira o título desta edição da Bienal: Afinidades afetivas. É na arte que encontramos o espaço pleno da liberdade, em que princípios constitucionais de caráter vital tornam-se objetivos, concretos, reais. A arte também é economia e desenvolvimento. Temos enfatizado muito esta dimensão no Ministério da Cultura. Não custa repetir, pois nem todos se dão conta disso. As atividades culturais e criativas são vocações deste país e contribuem muito para a geração de renda, de emprego, de inclusão e de felicidade. E já são responsáveis por 2,64% do Produto Interno Bruto brasileiro, por cerca de 1 milhão de empregos diretos, por 200 mil empresas e instituições e pela geração de mais de R$ 10,5 bilhões em impostos diretos.
Neste contexto, convido a todos que participam desta edição da Bienal a refletir sobre uma mensagem simples: a cultura gera futuro. É o momento de dar à cultura o lugar que ela merece; de encarar a política cultural como política de promoção do desenvolvimento que desejamos para nossa sociedade.
Um desenvolvimento que não apenas gera e distribui riqueza, mas que também transforma, estimula, reinventa e potencializa os indivíduos e o país – exatamente o que faz a arte, com suas dimensões simbólica e econômica. E a Bienal de São Paulo contribui muito para isso. A todos, uma excelente Bienal.
Sérgio Sá Leitão
Ministro da Cultura