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afetivas
33bienal/sp

7 set - 9 dez, 2018
entrada gratuita

Áudio 33bienal


Stargazer II / Åke Hodell by [por] Elena Wolay

The music journalist Elena Wolay tells a story of racial oppression behind the arwork Mr. Smith in Rhodesia, by Åke Hodell.

A jornalista de música conta a história de opressão racial por trás da obra Mr. Smith in Rhodesia [Sr. Smith em Rodésia], de Åke Hodell.

Português | English

PORTUGUÊS

Åke Hodell foi o piloto de caça que sofreu um desastre e milagrosamente sobreviveu para mudar de rumo durante sua convalescença e, pouco depois, tornou-se poeta, escritor e artista. Sua arte em constante mudança, passou da poesia modernista da década de 1950 para um trabalho de material sonoro no início dos anos 1960.

Com o tempo, seu trabalho ganhou um conteúdo político cada vez maior, mas sem comprometer a expressão artística. Hodell foi uma das figuras fundamentais durante a década de 1960, quando se tratava de desafiar os limites da arte e da poesia. Sua postura antiliterária também era notável em seu trabalho. Ele desenvolveu as condições para o que hoje chamamos de arte sonora e também composição texto-som. Hodell percorreu expressões artísticas como texto, palco, performance, peças de rádio e instalações sonoras. Ele também foi um dos poucos artistas desse tipo que era antimilitarista, anarquista e dedicou sua liberdade como artista para fazer arte para a liberdade do movimento negro de libertação.

Sobre o trabalho Sr. Smith na Rodésia: Eis aqui a história da brutal opressão racial de Ian Smith na Rodésia, mas é principalmente a abordagem que faz com que os jornais e diplomatas britânicos reajam com desalento. No parágrafo, Hodell usa um arranjo antigo com um coro que repete as frases do cantor. Vou ler o que o próprio Åke Hodell tem a dizer sobre a peça no contexto do cancelamento, em 1985, de 15 anos de proibição da peça no rádio.

“Minha composição Sr. Smith na Rodésia foi escrita durante o final do outono de 1969 e foi gravada no início de março de 1970, no EMS (Electroacoustic Music Studio, ou Estúdio de Música Eletroacústica) e na Rádio Sueca em Estocolmo. Precisávamos de cinco crianças negras com cerca de 11 ou 12 anos de idade para a gravação, mas isso se mostrou impossível. Dessa forma, entramos em contato com a escola de inglês em Estocolmo e encontramos cinco crianças brancas da mesma faixa etária. Eles deveriam ler alguns textos simples em inglês genuíno de Oxford; isso era importante porque as crianças negras nas escolas africanas de língua inglesa eram doutrinadas através do uso do inglês de Oxford e de seus valores políticos embutidos, inclusive em relação à crença colonial na justificação do sistema do apartheid.

Certa tarde as crianças vieram para a Rádio Sueca. Sob a orientação de um inglês, elas gravaram os textos em fita. Para que não ficassem entediadas no estúdio, demos a elas limonada e biscoitos. Claro que também foram remuneradas por seu trabalho. Imagine nossa surpresa algumas semanas depois, quando descobrimos o escândalo causado por essa gravação. Quando voltaram para casa, as crianças contaram a seus desinformados pais que haviam participado de uma composição dirigida contra a ditadura branca do primeiro-ministro Ian Smith na Rodésia. Os pais ficaram chocados e The Daily Telegraph publicou a notícia em sua primeira página. Permitiu-se que um repórter criativo escrevesse uma matéria dando conta de que as cinco crianças, cuja idade agora encolhera para cerca de 6 ou 7 anos, foram subornadas com doces e mais tarde levadas a figurar em uma ópera antiamericana no Museu Moderno de Estocolmo. No final da ópera, foram colocadas frente a uma parede e obrigadas a dizer: “O senhor Smith é um assassino”. O repórter deixou de mencionar que as crianças também disseram: “O sr. Smith é nosso amigo e pai”, “o sr. Smith nos dá comida e roupas”.

Os tabloides suecos relataram o escândalo em grandes manchetes. A embaixada britânica protestou junto à Swedish Broadcasting Corporation, após o que o diretor de programação da RS na época, Nils-Olof Franzén, explicou em uma entrevista que a gravação seria destruída, o que aconteceu. Fylkingen, que foi coprodutor da gravação, não ficou satisfeito. Financiou uma nova gravação na Inglaterra envolvendo crianças cujos pais eram totalmente favoráveis ao conteúdo político da peça.

Esta é a versão que foi apresentada no festival de Fylkingen e da Rádio Sueca no Museu Moderno em abril de 1970. Apesar dessa nova gravação, a peça desde então teve sua transmissão proibida na Rádio Sueca, mas depois dessa apresentação, a proibição foi cancelada. Existem versões alternativas desta história. Mas esta história é do próprio Åke Hodell de 1985. A peça foi dada por Åke Hodell a representantes dos movimentos de libertação ZANU e ZAPU durante uma viagem à África em 1977. Foi transmitida por estações de rádio clandestinas durante esse período. Na África para os africanos.

ENGLISH

Åke Hodell was the fighter pilot who crashed and miraculously survived to change his course during his convalescence and shortly after this he became a poet, author and artist. His ever-changing artistry, went from modernist poetry in the 1950s to a work of sounding material in the early 1960s.

Eventually, his work gained an ever-increasing political content, but without ever compromising on the artistic expression. He was one of the central figures during the 1960s when it came to challenging the boundaries of art and poetry. His anti-literary stance was also noted in his work. He developed the stage for what we today call sound art and also text sound composition. Hodell moved between artistic expressions like text, stage, performance, radio plays and sound installations. He was also one of the few artists of this kind that was antimilitarist, anarchist and gave his freedom as an artist to make art for the freedom of the black liberation movement.

About the work Mr. Smith in Rhodesia: Here is the story of Ian Smith's brutal racial oppression in Rhodesia, but it is primarily the approach that makes British newspapers and diplomats react with dismay. In the paragraph, Hodell uses an ancient arrangement with a choir that repeats the singer's phrases. I'm going to read what Åke Hodell have to say himself about the piece in conjunction with the lifting in 1985 of a 15-year radio ban of the piece.

”My composition Mr Smith in Rhodesia was written during the late fall of 1969 and was recorded in the beginning of March 1970, at EMS (Electroacoustic Music Studio) and at the Swedish Radio in Stockholm. We needed five black children around 11-12 years of age for the recording, but this turned out to be impossible. Therefore, we contacted the English school in Stockholm and found five white children of the same age group. They were to read some simple texts in genuine Oxford English; this was important because black children in English-speaking African schools were indoctrinated through the use of Oxford English and its built-in political values, not least in relation to the colonial belief in the justification of the apartheid system.

One afternoon the children came to the Swedish Radio. Under the guidance of an englishman, they recorded the texts on tape. So that they wouldn´t be bored in the studio, we gave them lemonade and biscuits. They were of course also paid for their work. Imagine our surprise a few weeks later when we found out about the scandal caused by this recording. When they returned home, the children told their unknowing parents that they had been a part of a composition which was directed against Prime Minister Ian Smith's white dictatorship in Rhodesia. The parents were shocked and The Daily Telegraph put the news on its front page. A creative reporter was allowed to write an article who wrote that the five children, whose age had now sunk to 6-7 years old, were bribed by candy and later tricked into appearing in an anti-american opera at the Modern Museum in Stockholm. At the end of the opera, they were placed in front of a wall and forced to say, "Mr Smith is a murderer." The reporter neglected to mention that the children also said, "Mr Smith is our friend and father", "Mr Smith gives us food and clothing".

The Swedish tabloids reported the scandal in large headlines. The British Embassy did protested to the Swedish Broadcasting Corporation, after which SR´s program director at the time, Nils-Olof Franzén, explained in an interview that the recording would be destroyed, which it was. Fylkingen, which was co-producer of the recording, was not satisfied. He financed a new recording in England involving children whose parents were quite positive towards the political content of the piece.

This is the version which was presented at Fylkingen´s and the Swedish Radio´s festival at the Modern Museum in April 1970. In spite of this new recording, the piece had since then been banned from transmission on the Swedish Radio, but from this performance on, the ban was lifted. There are alternative versions of this story. But this story is from Åke Hodell himself from 1985. The piece was given by Åke Hodell to representatives of the freedom movements ZANU and ZAPU during a journey to Africa in 1977. It was broadcasted by underground radio stations during that time. All Africa to the Africans.

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