afinidades
afetivas
33bienal/sp

7 set - 9 dez, 2018
entrada gratuita

Áudio 33bienal


Gabriel Pérez Barreiro / Afinidades afetivas [Affective Affinities]

O curador Gabriel Pérez-Barreiro fala sobre suas afinidades afetivas.

Curator Gabriel Pérez-Barreiro presents his own affective affinities.

Português | English

PORTUGUÊS

Olá, eu sou o Gabriel Pérez-Barreiro e eu queria contar uma história que tem a ver com o porquê eu sou curador e porquê eu me envolvi com as artes. Eu tinha 21 anos, tava estudando na faculdade, e por vários motivos de estudo eu estava em Buenos Aires. Eu estava caminhando para conhecer os grandes museus da cidade, parei no Museu Nacional de Belas Artes. Tinha uma exposição temporária, não conhecia o artista, e eu entrei. Este dia, eu acho que mudou radicalmente minha vida. Tinha alguma coisa nessa exposição que, quando eu saí, quando já fecharam o museu e me mandaram embora – porque eu não queria ir embora – eu sabia que queria fazer isso: queria entender o que me aconteceu esse dia. Até esse ponto, meu contato com a arte tinha sido mais acadêmico, intelectual, da história da arte, como muitas pessoas estudam, e esse foi o dia que eu senti que a arte poderia ser uma coisa diferente na vida. Que ela tinha mais a ver com uma paixão, com uma dúvida, com o desconhecido do que com o conhecido.

Eu lembro uma vez eu ouvi uma pessoa falar que a arte era uma forma de conhecer o desconhecido. E eu achei uma definição muito boa. A gente pode ter muito conhecimento sobre arte, mas acho que o que nos leva, o que nos dá riqueza na vida é saber que isso é o desconhecido e que ele dá uma estrutura para você achar e mergulhar no desconhecido. Cada obra de arte é uma forma de olhar de uma pessoa. Ela foi criada numa intimidade, e quando isso fica numa exposição, quando fica numa Bienal, em qualquer lugar, ele abre uma possibilidade para outras pessoas olharem para isso e entenderem alguma coisa sobre a subjetividade da outra pessoa.

Então nessa Bienal, além das exposições coletivas, reservei um lugar para 12 projetos que são a minha escolha, as minhas afinidades afetivas. Eu queria escolher trabalhos que eu acredito que eles têm uma riqueza específica, que são mundos nos quais eu gostaria que as pessoas se sentissem convidadas para mergulhar. Como uma regra, se eu conseguiria explicar o trabalho numa frase curta, então não queria este trabalho. Eu queria trabalhos que não fossem discursivos, que não fossem: "Olha, esse é o cara que faz X...". Não! Um trabalho em que a experiência de olhar para o trabalho é insubstituível por qualquer outra informação.

No processo de pensar as 12 escolhas minhas, os 12 projetos individuais, eu estava conversando com um amigo e ele falou uma coisa que me marcou. Ele falou: "Ah mas esse artista não tem alma!" E eu pensei: "Nossa que coisa interessante!". O que seria fazer uma seleção na qual você deixa de um lado o estilo, geografia, temática, enfim, idade, todos estes critérios mais matemáticos, ou mais objetivos, e você falasse: eu quero uma pessoa que me interessa a alma dessa pessoa? Eu acho que, de fato, todos estes artistas que participam, enfim, na Bienal inteira, eu acho que têm um pouco essa característica.

Hi, I’m Gabriel Pérez-Barreiro and I want to tell a story that has to do with why I’m a curator and why I got involved with the arts. I was 21 years old, I was in college, and for various reasons regarding studying I was in Buenos Aires. I was walking, going to see the great museums of the city and I stopped at the National Museum of Fine Arts. There was a temporary exhibition, I did not know the artist, and I walked in. This day, I think, has radically changed my life. There was something about this exhibition that, when I left, when they closed the museum and sent me away – because I did not want to leave –, I knew I wanted to do this: I wanted to understand what happened to me that day. Up until that point, my relationship with art had been more academic, intellectual, based on art history, as many people do, and it was on that day that I felt that art could be a different thing in life. That it had more to do with a passion, with a doubt, with the unknown than with what is known.

ENGLISH

I remember I once heard a person say art was a way of knowing the unknown. And I found it a very good definition. We may have a lot of knowledge of art, but I think what shows us the way, what gives us a wealthy life is to know that this regards the unknown and that it gives a framework for us to find the unknown and plunge into it. Each work of art is someone’s way of seeing. It was created within some intimacy, and when it is shown in an exhibition, when it is in a Bienal, or anywhere, it opens a possibility for other people to look at it and understand something about this other person’s subjectivity.

So at this Bienal, in addition to the collective exhibitions, I reserved some room for 12 projects that are my choice, my affective affinities. I wanted to pick jobs that I believe pursue a specific richness, that are worlds where I would like people felt invited to dive in. As a rule, if I were able to account for the work in a few words, then I would refuse it. I wanted pieces that were not discursive, that weren’t like “Oh, look, that’s the guy who does that...” No! I pursued works whose experience of looking at them would be unrivalled when compared to any other way of perceiving it.

While taking into consideration my 12 choices, the 12 individual projects, I talked to a friend and he said something that struck me. He said: “But this artist has no soul!” And I thought, “Wow, what an interesting point!” What would be of a selection in which one leaves aside the artist’s style, geography, thematic, age etc., all these more mathematical criteria, or more objective, and stated “I pursue an artist whose soul might interest me”? I think that, in fact, all these artists that take part in the event, in short, the entire Bienal, I think they share this characteristic in some degree.

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