afinidades
afetivas
33bienal/sp

7 set - 9 dez, 2018
entrada gratuita

Áudio 33bienal


sentido/comum / Escuela de Vallecas por [School of Vallecas by] Antonio Ballester Moreno

Antonio Ballester Moreno faz uma leitura da produção da Escuela de Vallecas, a partir de texto escrito por Alberto Sánchez.

Antonio Ballester Moreno's reading of Escuela de Valleca's production, from the perspective of a text written by Alberto Sánchez.

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PORTUGUÊS

Não importava se fazia bom ou mau tempo. Combinávamos, quase diariamente, de nos encontrar na estação, por volta das três e meia, para caminhar. Seguíamos as vias do trem em direção aos subúrbios vizinhos e avançávamos para os campos no limite da cidade. Metíamos a cabeça entre as pernas e víamos como se transformava toda a visão da paisagem. A postura modificava o olhar e assim descobríamos, por esse procedimento, a rotina dos olhos. O que contemplávamos do alto da colina não tinha sido realizado por nenhum outro pintor. Começamos a colecionar pedras, paus, areia e todo objeto que tivesse qualidades plásticas. Encaramos a questão com verdadeiro fanatismo, ao ponto de uma vez em que encontramos num alqueive um sapato velho de mulher e, a respeito do achado, comparamos os dois mundos: o campo aberto e o interior da cidade. Isso nos fez lançar o grito: Vivam os campos livres do mundo!

Uma visão que ficou gravada para o resto da vida é a seguinte: um desfiladeiro com encostas que pareciam peles de lagarto; fui procurando uma sombra porque fazia um calor sufocante. Ao longe, vi como que um bando de pássaros grandes que estavam parados. O local onde eu estava conservava ainda a umidade do orvalho, ali havia ervas com gostinho de menta. Enquanto observava o bando de pássaros, vi com emoção que ficavam de pé, retos. Resultou que eram quinze ou dezesseis mulheres que jogaram as saias à cabeça para se proteger do sol, e começaram a andar com ritmo de aves, em direção oposta à minha.

Tínhamos os olhos muito abertos para as formas esculturais. De fato, eu não fazia mais do que levantar essas formas da terra. Não gostava dos monumentos da cidade porque os achava feitos de vaidade. Desejava que todas as pessoas desfrutassem dessa emoção que causava em mim o campo aberto. Um dia, andando pelos campos onde não se via nenhuma árvore, somente matas de tomilho nos cerros, vi como um gavião comia um pássaro. Por ali somente passava um ou outro pastor. Tive a ideia de construir o Monumento a los Pájaros [Monumento aos pássaros] para colocar naquele local. Serviria de monumento e ao mesmo tempo de ninho para os pássaros pequenos, esburacado e construído de tal forma que as aves de rapina não conseguiriam entrar nele, nem os predadores subir nele. Vivam os campos livres do mundo!

ESPAÑOL

Daba igual el tiempo que hiciera. Nos citábamos casi a diario en la estación, sobre las tres y media, para caminar. Seguíamos las vías del tren hacia los suburbios colindantes y avanzabamos hacia los campos en el límite de la ciudad. Metíamos la cabeza entre las piernas y veíamos cómo se transformaba toda la visión del paisaje. La postura modificaba la mirada y así descubríamos por este procedimiento la rutina de los ojos. Lo que contemplábamos desde lo alto de la colina no había sido realizado por ningún pintor. Nos dimos a coleccionar piedras, palos, arenas y todo objeto que tuviera cualidades plásticas. Tomamos la cosa con verdadero fanatismo hasta el extremo de que una vez encontramos en un barbecho un zapato viejo de mujer y sobre el hallazgo comparamos los dos mundos: el del campo abierto y el del interior de la ciudad. Esto nos hizo lanzar el grito ¡Vivan los campos libres del mundo!

Una visión que se me ha quedado grabada para toda la vida es la siguiente: una vaguada con laderas de monte como pieles de lagarto; fui buscando una sombra porque hacía un calor sofocante. A lo lejos vi como una bandada de pájaros grandes que estaban parados. El lugar donde yo me encontraba conservaba todavía la humedad del rocío; allí había hierbecitas que sabían a menta. Mientras miraba la bandada de pájaros vi con emoción que se ponían en pie, derechos. Resultó que eran quince o dieciséis mujeres que se echaron las faldas a la cabeza para protegerse del sol, y comenzaron a andar con ritmo de aves, en dirección contraria a la mía.

Teníamos los ojos muy abiertos para las formas esculturales. En realidad yo no hacía más que levantar esas formas de la tierra. Los monumentos de la ciudad me disgustaban porque los encontraba hechos de vanidad. Deseaba que todas las personas disfrutaran esta emoción que me causaba el campo abierto. Un día, andando por los campos donde no se divisaba ningún árbol, sólo matas de tomillo en los cerros, vi cómo un gavilán se comía un pájaro. Por allí sólo pasaba algún pastor que otro. Se me ocurrió levantar el Monumento a los Pájaros para emplazarlo en aquel sitio. Serviría de monumento y a la vez de nido a los pájaros pequeños, agujereado y construido de manera que las aves de rapiña no podrían meterse, ni las alimañas subir a él. ¡Vivan los campos libres del mundo!

ENGLISH

It didn’t matter if the weather was good or not. We would plan to meet at the station, almost daily, around half past three, to take a walk. We would follow the train tracks toward the neighboring suburbs and then to the fields on the outskirts of town. We would put our heads between our legs to see how the entire view of the landscape would change. This position altered our perspective and allowed us to discover this routine. What we observed from up on the hill had not been done by any other painter. We began to collect rocks, sticks, sand and any object that had plastic qualities. We approached the endeavor with real fanaticism, to the point that we once found the shoe of an old woman on a piece of fallow land and used it to compare two worlds: the open countryside and the inner city. This made us shout aloud: long live the open countrysides of the world!

The following vision was etched on our minds for the rest of our lives: a canyon with slopes that looked like lizard skin; I went in search of shade because of the suffocating heat. From afar, I saw a flock of large birds, motionless. Where I was, there was still the wetness of the dew, there were herbs with a slight taste of mint. While observing the flock of birds, to my surprise they stood up straight. It so happens that the flock was actually 15 or 16 women who had flipped their skirts over their heads to shield themselves from the sun, and they began to walk away from me in the rhythm of birds.

We kept our eyes wide open for the sculptural forms. Actually I did nothing more than lift these forms from the earth. I never liked the monuments of the city because I thought they were the product of vanity. I wanted everyone to enjoy the excitement that I felt in the open countryside. One day, walking through the countryside where there were no trees, only thyme shrubs lining the hills, I saw a hawk eat a bird. Only occasionally would a shepherd pass by there. I had the idea of building the Monumento a los Pájaros [Monument to the birds] in that location. It would serve as a monument and a nest for small birds, with holes, built in a way that birds of prey could not enter, nor could predators perch on it. Long live the open countrysides of the world!

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