afinidades
afetivas
33bienal/sp

7 set - 9 dez, 2018
entrada gratuita

Áudio 33bienal


sentido/comum / Friedrich Fröbel por [by] Vik Muniz

Vik Muniz comenta sobre pedagogia, o legado e a criação dos gifts [presentes] na obra de Friedrich Fröbel.

Vik Muniz comments on pedagogy, the legacy and creation of the gifts in Friedrich Fröbel's work.

Português | English

PORTUGUÊS

A primeira vez que eu me deparei com esses objetos, realmente eles não me impressionaram, porque parecia coisa que eu já tinha visto milhares de vezes em lojas de brinquedos. É importante frisar que antes destes objetos terem sido inventados, no fim do século 18, começo do século 19, não existia nenhum tipo de ferramenta pedagógica para crianças abaixo de 6 anos de idade. Na verdade as crianças abaixo de 6 anos eram consideradas incapazes de aprender qualquer coisa.

Ao contrário da maioria dos pensadores de sua época, Fröbel acreditava e apostava no potencial cognitivo da criança mais jovem. Ele acreditava que a própria ideia do brincar, do faz-de-conta, eram ferramentas fundamentais para a maneira como essa criança ia se deparar com formas simbólicas. Uma outra coisa interessante é que existia muita participação da brincadeira entre as crianças, essa coisa social, a ideia da sala de aula como a gente conhece hoje em dia, é em grande parte um produto desse tipo de pedagogia.

A pedagogia do Fröbel está sistematizada em torno de ideias as quais ele caracterizou como dons e ocupações. Dons, ou presentes, são essas ferramentas pedagógicas que têm a capacidade de retornar à forma original. Como os blocos, mosaico, né? O aluno era encorajado a explorar aquilo e depois ele podia guardar numa caixa de novo e aquilo voltava ao que era para ele poder refazer aquela experiência. Isso tinha um pouco a ver também com a ideia do conhecimento das formas que ele promovia. Existiam no seu método três tipos de formas: formas vitais, formas de conhecimento e formas de beleza. Isso está muito relacionado com os dons. As formas vitais consistiam na relação do conhecimento das formas naturais muito básicas, a esfera, o cubo, e as formas de conhecimento eram baseadas na relação entre essas formas, ou a relação do homem com essas formas. E as formas de beleza eram mais para a exploração estetica desse material.

A ideia de Modernismo sempre foi relacionada ao conjunto de transformações econômicas, sociais, políticas que ocorreram desde meados do século 19 até o começo do século 20. Mas na verdade, a gente esquece que muito disso tem a ver com uma maneira de como os protagonistas deste movimento começaram a se relacionar com o mundo que os cercava. Isso tem muito a ver com a educação e, principalmente, com a educação que eles obtiveram através do sistema do Jardim da Infância, inventado por Fröbel. Não é nenhuma coincidência que todos os grandes mestres do Modernismo, ou grande parte deles, como Mondrian, Kandinsky, Klee, Frank Lloyd Wright, Loos, foram expostos a esse tipo de educação. Tanto que existe uma relação muito estreita entre o trabalho que eles desenvolveram mais tarde em suas vidas com o trabalho que eles estavam fazendo enquanto eles eram ainda crianças, com 5 ou 6 anos, no Jardim de Infância de Fröbel.

Fröbel acreditava que o conhecimento era um produto da atividade humana em relação direta com o material e com o ambiente. Era uma coisa de experiência. E que a ideia de aprendizado tinha mais a ver com o que você conseguia tirar dessa experiência do que a ideia de colocar coisas na cabeça da criança, que é muito prevalecente na educação de hoje em dia.

ENGLISH

The first time I saw these objects, they really didn’t impress me, because they seemed like something I had seen a thousand times before in toy stores. It is important to note that before these objects were invented, at the end of the 18th century, beginning of the 19th century, there were no pedagogical tools for children under the age of six. Children under six were actually considered incapable of learning anything.

Unlike most thinkers of his time, Fröbel believed and invested in the cognitive potential of younger children. He believed that the idea of play itself, of make-believe, was fundamental to the manner in which children discover symbolic forms. Another interesting thing is that children engaged in a lot of play, this social thing, the idea of the classroom as we understand it today, to a large extent, is a product of this type of teaching.

The pedagogy of Fröbel is systematized around ideas that he characterized as gifts and occupations. Gifts are these pedagogical tools that have the capacity to return to their original form. Like blocks, mosaics, you know? The student was encouraged to experiment with them and later he could put them back in the box, returning them to their original state so he could have that experience again. This also had a little to do with the idea of knowledge of the forms that he promoted. In his method there were three types of forms: forms of life, forms of knowledge and forms of beauty. This is very much related to the gifts. The forms of life were based on the knowledge of very basic natural forms, the sphere, the cube; and the forms of knowledge were based on the relationship between these forms, or the relationship between man and these forms. And the forms of beauty were more about the aesthetic exploration of this material.

The idea of Modernism was always related to the series of economic, social and political transformations that occurred starting mid-19th century and ending at the turn of the 20th century. But, in fact, we forget that much of this had to do with the way the protagonists of this movement began to relate to the world around them. This has a lot to do with education and, more specifically, the education that they received through the kindergarten system, invented by Fröbel. It is no coincidence that all of the great masters of Modernism, or at least most of them, including Mondrian, Kandinsky, Klee, Frank Lloyd Wright and Loos, were exposed to this type of education. So much so that the work that they produced later in life was very closely related to the work they did while they were still children, at five or six years of age, in Fröbel’s kindergarten.

Fröbel believed that knowledge was a product of human activity and directly related to materials and the environment. It was all a matter of experience. And that the idea of learning had more to do with what you were able to get out of this experience than the idea of placing things in the heads of children, which is still very prevalent in education today.

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