Claudia Fontes tells the story that led her to create The Slow Bird, the group show she is curating on the 33rd Bienal.
Claudia Fontes conta a história que a levou à criação de O pássaro lento, exposição coletiva que curou para a 33ª Bienal.
Moro à beira-mar, bem na fronteira entre a cidade e uma reserva natural, a última rua da cidade em frente a um campo. Uns dois anos atrás, um corvo bateu em desespero em uma de nossas janelas da frente no andar de cima. O som de pássaros agitados lá fora era ensurdecedor. Abri a janela para ver o que estava acontecendo e vi o gato de pelo laranja do vizinho prendendo um enorme corvo preto brilhante ao chão, uma pata firmemente apoiada em cada ponta das asas do corvo, e prestes a dar-lhe uma mordida assassina na garganta.
O corvo olhou para mim em desespero, enquanto todos os outros pássaros continuavam batendo as asas e guinchando loucamente e mergulhando no gato para tentar um resgate, sem sucesso. Nunca vi uma equipe tão heterogênea no mundo das aves... corvos, gralhas e gaivotas, que geralmente brigam por seu território, haviam-se unido em cooperação para salvar o corvo. Sentindo-se desamparados, recorreram a mim, um humano, para que me unisse à operação de resgate.
Peguei uma concha que eu tinha no banheiro e atirei-a no gato. O gato se distraiu por uma fração de segundo, o suficiente para os corvos e gralhas mergulharem e resgatarem o corvo. O corvo ferido voou à minha frente e traçou um círculo perfeito ao lado da janela, antes de se juntar ao resto dos pássaros e voar para o campo. Foi assim que começou a colaboração que levou a meu trabalho na Bienal de São Paulo.
I live by the sea, right on the border between the city and a natural reserve, the last street of the town in front of a field. A couple of years ago a crow knocked in despair at one of our upper floor front windows. The sound of agitated birds was deafening outside. I opened the window to see what was going on and saw the neighbours’ ginger cat pinning a huge shiny black raven to the floor, one paw firmly standing on each extreme of the raven’s wings, and about to give him a killer bite on the throat.
The raven looked up at me in despair, while all other birds kept flapping their wings and screeching madly while diving on to the cat to attempt a rescue, to no avail. I never saw such a motley crew in the avian world… ravens, crows and seagulls, who usually compete for their territory, had come together in cooperation to save the raven. Feeling helpless, they had turned to me, a human, to join the rescue operation.
I grabbed a shell I had in the bathroom and I threw it to the cat. The cat got distracted for a split second, enough for the crows and ravens to dive in and rescue the raven. The injured raven flew up in front of me and drew a perfect circle by the window, before joining the rest of the birds and flying away into the field. That is how the collaboration that led to my artwork at the São Paulo Biennal started.