/ Vânia Mignone por [by] Nando Reis

O músico Nando Reis comenta sobre o repertório de Vânia Mignone e a capa que ela criou para seu disco solo "Jardim/Pomar", 2016.

The musician Nando Reis comments on the repertoire of Vânia Mignone, and the cover she has created for his album "Jardim/Pomar", 2016.

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Eu conheço o trabalho da Vânia Mignone há uns 25 anos. Eu lembro que o que me impressionou nos anos subsequentes do trabalho dela foi a cor. Vermelho e preto. Que eu sempre associei, curiosamente, às embalagens dos fósforos Fiat Lux, que tinham diferentes estampas: o olho, o beija-flor, moça e pinheiro. Porque o trabalho da Vânia, a mim, ele é composto de signos, né? Muitas vezes tem frases, letras mesmo, a própria maneira... o suporte dele é feito de papéis, colagens e pintado daquela maneira que você distingue aquilo à distância e aquilo te imprime uma marca de um signo mesmo. De um sinal, de um apontamento, de uma direção, de uma encruzilhada. É um sinal que, ao invés de te dar uma direção única, ou ter um único significado, ele se amplia em milhares de significados que se modificam a cada dia. Como se fosse uma caixa de fósforos que você abre e tem inúmeros palitos e, a cada um deles, você acende e vai fazer um fogo que vai te dizer alguma coisa, vai iluminar alguma situação. Quando convidei ela para fazer um trabalho para ser capa de um disco meu é porque também há uma relação que é um pouco o que há na música. Porque a forma como a Vânia ilustrou, fez a pintura sobre o conteúdo do disco, é uma visão dela que é distinta, que é tão bela e que apresenta, através de sua representação, outras vertentes para a compreensão da própria música. Uma capa de disco com o trabalho dela, que é um díptico, virou uma capa de um disco, ela é uma embalagem, como a embalagem dos fósforos que eu tanto gosto. Reduz, ou seja, numa pintura, uma quantidade enorme de palitos de fósforo com seus fogos próprios. Acho que é isso. O trabalho da Vânia permite uma viagem como essa que eu estou fazendo agora.