afinidades
afetivas
33bienal/sp

7 set - 9 dez, 2018
entrada gratuita

Convite à atenção


Mariana Mendonça Meyer

Descrição do objeto de atenção
O momento presente - Anri Sala - IMS Paulista

Registro da experiência

1 encontrar uma obra - carta 1 Até o encontro, há um caminho a ser percorrido. Observar seus passos, suas escolhas, o que está à sua volta. Deixar-se fisgar pela obra. Fui ao "encontro de professores" do IMS. Já participei de outras atividades com o mesmo intuito, e é interessante, pois o encontro com o outro favorece o encontro consigo mesmo e com a obra. As videoinstalações, por serem também artes explicitamente temporais, cadenciam o ritmo de nossa atenção. Recebemos um caderno de proposta para observação: veríamos cada vídeo para depois conversarmos a partir de nossas anotações. O caderno tinha uma página para cada obra e algumas sugestões de palavras, minhas ideias, tal qual garatujas, transbordavam o formato pré-estabelecido, mas mesmo assim, o material me ajudou a aprofundar minhas percepções. O caderno é um sistema digestivo que propicia a apropriação das obras, possibilitando assim uma experiência completa. A perspectiva de conversar, me trazia o alento de saber que com o mesmo carinho com o qual eu estava selecionando aquilo que considerava mais importante de ser conversado, também poderia trocar com quem fez o mesmo processo e assim caminharmos juntos rumo a uma nova reflexão, um novo ciclo de entendimento. 2 dedicar atenção - carta 11 Se a obra lhe fizesse uma pergunta, qual seria? Se você fizesse uma pergunta à obra, qual seria? Cinza e sons. Nada mais. O momento presente, somente. O momento presente, tudo isso. Mariposas atraídas geometricamente pela luz linear brincam com as perspectivas da sala. O som é uma arte espacial. Cada caixa é um instrumentista diferente, formando uma escultura sonora. É preciso caminhar para estar em contato com os diversos ângulos. O som é um fenômeno físico, ondas que movimentam partículas, criam ressonâncias. No teto, tambores nos lembram desse aspecto que faz meus átomos e pelos dançarem nesta mesma vibração. Como essa sensação de vazio pode me atrair tanto? Por um lado me angustia, por outro me fascina. As telas cinzas começam a mostrar cotovelos em perfeita sintonia. Lembro dos encontros de consciência corporal que participei e me encanto com a tamanha entrega ao som que permite tão profunda sincronia. Então, a câmera e se distância e percebo que não é o som que está gerando o gesto, e sim o contrário. Será que conseguimos nos entregar aos sons, em forma de gestos, de maneira tão profunda quanto os sons que nascem de nossos gestos? Ser pura ressonância? Libertar tantas resistências? Estar complemente presente, atento, afinado, afim: afinidades. Será que o treinamento dos instrumentistas foi tão rígido a ponto de tornar o gesto mecânico? Como resgatar desde os ossos as possibilidades gestuais? Entrar no reino da escuta, experimentar o caminho inverso do hábito. 3 registrar a experiência - carta 4 Afastar-se da obra. Recolher-se por alguns minutos. Realizar um gesto ou um movimento corporal com base na experiência que você teve com a obra. Experimentar os sons em gestos com uma sincronia tão profunda quanto a de um som que nasce de um gesto. Como se dá este diálogo: gesto-som, som-gesto? Pode-se recorrer a algumas técnicas de consciência corporal, como Eutonia e Klaus Vianna. O que importa é deixar-se estar imerso para viver uma experiência, ir além do consumo sonoro. Entrar no reino da escuta. 4 compartilhar - modo coletivo O encontro foi em um dia atípico e éramos apenas três, dois visitantes e a mediadora. Assim o fluxo da conversa pôde seguir de maneira aconchegante, com espaço para cada um falar sobre cada obra, como se estivéssemos na cozinha da casa de um amigo, em torno de uma bebida quente -- sensação reforçada pela proposta do ambiente escolhido para a conversa, o café ao lado da praça, ainda que prescindíssemos de qualquer líquido pretexto para estarmos juntos, dar-nos tempo para escutar o outro e deixar emergir as reverberações do ambiente no qual tínhamos imergido. .

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