Nascido no Paraguai, Feliciano Centurión foi um artista fundamental na renovação artística ocorrida nos anos 1990 em Buenos Aires, em torno do Centro Cultural Ricardo Rojas. Os artistas dessa geração exploraram a subjetividade de diversos modos, muitas vezes incorporando elementos da cultura popular que anteriormente seriam considerados kitsch ou inapropriados.
A obra de Centurión se caracteriza pelo uso dos tecidos e do bordado, campos de criação femininos por tradição e que são centrais na cultura paraguaia desde a Guerra da Tríplice Aliança (1864-1870), ou Guerra do Paraguai, quando o país perdeu noventa por cento da população masculina. Os primeiros trabalhos de Centurión costumavam apresentar retratos extravagantes de animais, pintados em cobertores baratos. Ele também fez uma série de tecidos bordados, nos quais expressava desejos ou vontades, quase como um diário íntimo. Quando foi diagnosticado como HIV positivo, começou a relatar aspectos de sua doença nas obras, culminando na série de travesseiros apresentados no final dessa exposição. O uso do sentimento e das linguagens visuais tradicionalmente femininas colocam Centurión no contexto de artistas que começaram a explorar gênero e sexualidade ao longo dos anos 1990. Embora sua carreira tenha sido tragicamente curta, ele continua sendo uma figura central, mas pouco reconhecida, da história da arte contemporânea recente. [GPB]